Que escritor tem a capacidade de transformar um relato histórico, sem muita importância, em uma bem elaborada e imaginária narrativa? Não sou profundo conhecedor deste método, mas a viagem de um elefante de Lisboa a Viena, sucedida no século XVI, foi o feliz mote escolhido por Saramago para orientar o seu mais recente livro, que mistura a descrição deste acontecimento verídico à capacidade imensamente criativa do autor. O conto da viagem nos traz, além da transcrição da paisagem européia do medievo, uma perspectiva de como a mística e catolicizada população da época reagia diante de novidades exóticas, como a aparição repentina de um inédito paquiderme em seus vilarejos. Ademais, como se trata de um animal indiano, cuidado e guiado também por um cornaca indiano (tema de casa: procure a palavra “cornaca” no dicionário, eu tive que fazer isso), o livro nos leva a um passeio pela mitologia hindu e apresenta esclarecedoras explicações sobre suas divindades, principalmente o surgimento de Ganeixa – o deus elefante. Enfim, a história de Salomão (ou Solimão), o elefante, e de Suhbro (ou Fritz), o cornaca, é uma interessante combinação de entretenimento e aprendizado, temperada pelo incomparável estilo de Saramago.
(Resenha do colaborador do Idéias, Edson Jr.)
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